quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Príncipe


Ela estava no bar, sozinha, tomando cerveja, quando ele se aproximou. Não disse nada, nem se apresentou, mas desde logo ela teve certeza: era um príncipe. Um homem jovem, bonito, sória e elegantemente trajado, os cabelos castanhos e lisos cuidadosamente penteados. Príncipe, sim. E a grande aventura que ela sempre esperara estava enfim acontecendo.
Sorrindo, o príncipe fez um imperceptível gesto de cabeça. Ela levantou-se, acompanhou-o. Saíram do bar, embarcaram no grande carro cinza-prateado que o aguardava. Sem uma palavra, como se fosse algo preestabvelecido, o chofer arrancou. Rodaram algum tempo pela cidade e depois pelo subúrbio; e não trocavam uma palavra, o príncipe e ela. Olhabvam-se, às vezes, e quando se olhavam, sorriam, mas nada diziam, porque não parecia necessário dizer nada. Chegaram à casa de campo, e era bem como ela imaginava. Uma grande casa, sutuada no meio de um imenso e bem cuidado relvado. O mordomo esperava-os à porta; subiram de imediato para o andar superior. O príncipe abriu a cama, com dossel em musselina e colcha ricamente bordada. Com um suspiro, ciu nos braços e sem delongas iniciaram os folguedos, que culminaram em poucos instante com grande ato sexual. Depois, ele abriu o champanhe que estava no balde de prata; sorrindo sempre, e sempre sem dizer nada.
Ficaram ali, em silêncio, tomando champanhe. E, de repente, ela não pôde se conter; de repente, os olhos brilhando:
- Tu reparou, Excelência, que a gente não disse uma palavra desde que nos encontramos?
O homem tentou ainda detê-la, mas era tarde demais; o encanto rompido, ele rompeu em prantos, transformado irremediavelmente em quê?
Em príncipe, decerto.


(Moacyr Scliar)

domingo, 16 de novembro de 2008

A arte de educar para a vida

A educação no Brasil é algo notadamente precária, tanto aquela que as crianças e adolescentes deveriam receber em casa quanto na escola. Lares desestruturados e escolas mal equipadas e com funcionários mal remunerados vem gerando uma verdadeira bola de neve social em nosso país.

As crianças e adolescentes gostam e necessitam de se sentirem cuidados, protegidos e amados, coisas que na maioria das vezes, em situações de vulnerabilidade social, não acontece. Seus pais caem ou na liberalidade (o que passa uma imagem às crianças de descaso) ou no rigor autoritário (que passa a sensação de incompreensão e revolta).
É essa a lacuna a ser preenchida pelo programa socioeducativo. Através dos trabalhos desenvolvidos com os temas transversais, o educador passa aos educandos ensinamentos que os possibilitarão crescer e se desenvolverem como homens e mulheres de bem, atuando na sociedade com habilidades até então ignoradas por eles e por suas influências.

A principal ferramenta para o sucesso de um educador é a afetividade. Sem ela não há diálogo possível entre as duas partes, e nada que um disser encontrará eco no outro. A afetividade é uma mistura de sentimentos, e cabe ao educador ensinar ao educando a lidar com estes sentimentos de forma a se desenvolver, ao invés de se destruir.
Ao criar no educando o hábito de estudar, por exemplo, o educador está dizendo indiretamente que quer vê-lo crescer como pessoa e como cidadão, e que se importa com o que ele quer ser, com o que pensa e com o que sente. Este é o maior prêmio que um educando pode receber: afeto.

Cidadania é como também podemos descrever o trabalho de um educador social, pois ao educar um adolescente o mesmo está dando uma contribuição direta para a sociedade; melhorando-a e renovando-a de forma sadia, entregando a ela adultos desenvolvidos física, moral e intelectualmente. Para isto, o educador dispõe de horas preciosas ao lado de seus educandos, além de oficinas onde pode oferecer ao mesmo tempo educação, momentos lúdicos e afetividade.

A vida é feita de experiências. Cabe ao educador oferecer momentos especiais e únicos aos educandos, para que nunca percam o sentido de estarem vivos e a vontade de sonhar.